Ensine seu cérebro a esticar o tempo


MIKE HALL ensinou a si mesmo como esticar o tempo. Ele usa seus poderes para se tornar um jogador melhor de squash. "É difícil descrever, mas é um sentimento de quietude, como se eu não estivesse mais preso ao tempo sequencial," ele diz. "A bola continua a se mexer, mas ela se move ao redor da quadra em diferentes velocidades dependendo das circunstâncias. É como se eu tivesse saído do tempo linear."

Hall, um técnico de esportes em Edinburgh, UK, está falando sobre um estado mental conhecido como "a zona". Ele acha que suas habilidades vêm de 2 anos de estudo da arte marcial t'ai chi, e agora tira seu sustento ao ensinar outros esportistas como "ser mais rápido por ir mais devagar".



Para a maioria das pessoas, entrar "na zona" no trabalho ou em casa não é uma opção realista. Mas a idéia de esticar o tempo - ou pelo menos ter mais controle sobre seu ritmo louco - é muito atrativa. E existem coisas que podemos fazer. Existe um crescente entendimento sobre como nossos cérebros medem a passagem do tempo, e acontece que temos mais controle consciente sobre isso do que pensávamos.

Biólogos tradicionalmente dividem nossas habilidades de ver o tempo em três domínios. Em uma ponta, estão os ritmos circadianos, que controlam coisas como o sono e se manter acordado no período de 24 horas. No outro extremo está o tempo em milisegundos, que está envolvido em tarefas de motricidade fina. No meio - a faixa de segundos até minutos - é conhecida como "tempo de intervalo". Este é o sistema no qual nós percebemos a passagem do tempo de forma consciente.

Até recentemente, o tempo de intervalo era algo como uma represa psicológica, diz John Wearden da Universidade Keele em Staffordshire, UK. Enquanto a base biológica de relógios circadianos e de milisegundos era bem entendida, ninguém conseguia achar a medida biológica que usávamos para o tempo de intervalo. Como resultado, muitos achavam que a percepção do tempo era apenas o efeito colateral da cognição geral e recusavam-se a ver isso como uma disciplina em sua própria forma. Mas agora, partes do cérebro foram separadas como sendo especializadas para medir o tempo, e nós estamos tendo tentadoras espiadas do que nos faz andar no tempo.

Estudos biológicos sobre o tempo de intervalo normalmente começam pelo que se conhece como modelo de "marcador de passos". Isto propõe que o cérebro tenha um marcador de passos interno, que emite pulsos regulares que são temporariamente armazenados em seu acumulador. Quando precisamos estimar quanto tempo se passou - quanto tempo ficamos esperando por um ônibus, por exemplo, ou se o chá já está pronto - nós simplesmente acessamos os conteúdos deste acumulador.



O cronômetro interno

O modelo do acumulador de passos é bom para explicar como as pessoas se saem em experimentos comportamentais, por exemplo, para julgar a duração de uma emissão de luz de uma lanterna. Mas conforme as pesquisas cerebrais progridem, o modelo tem sido criticado por ser muito simplista. Em particular, ele não diz nada sobre a identidade do contador de passos, nem sobre quais partes do cérebro estão envolvidas.

Nos últimos anos, neurocientistas têm investigado os mecanismos de tempo do cérebro com medições das atividades elétricas. Eles também procuraram por pessoas que tiveram sua percepção de tempo perturbada por doenças ou dano cerebral. O resultado é um modelo mais complexo do tempo de intervalo chamado de "detecção de coincidências".

O modelo de detecção de coincidências ainda é um trabalho em progresso, mas uma coisa que tem ficado clara é quanta flexibilidade existe no modo como percebemos a passagem do tempo. Isso deve vir provavelmente sem surpresa alguma - é conhecimento comum que a percepção temporal pode ser alterada por drogas ou diferentes estados mentais como depressão, excitação e meditação. E como todos sabem, o tempo voa quando se está absorvido por uma tarefa e se arrasta quando se está entediado. Mas agora pesquisadores começam a entender os motivos para estas distorções subjetivas do tempo. Alguns até pensam que será possível um dia manipular nossa percepção temporal quando quisermos.

"Os jovens estão tentando entrar em contato com sua tartarugas internas"

Então como podemos alterar nossa experiência de tempo? A primeira opção poderia ser manipulando a química do cérebro, mais especificamente, o sistema da dopamina. Pacientes com desordem nesse sistema, como doença do Mal de Parkinson, de Huntington ou esquizofrenia, também sofrem distúrbios na sua percepção temporal. Isto ocorre porque sua química cerebral - especialmente seu sistema de dopamina - de alguma forma altera sua velocidade de seu relógio interno. "Esquizofrênicos têm muito mais atividade no seu sistema de dopamina por isso seu relógio é tão rápido que parece que o mundo todo está louco," diz Meck. "Se você bloquear seus receptores de dopamina com drogas, você pode trazer a velocidade de seus relógios internos de volta a um nível aceitável."

Drogas recreacionais que afetam o sistema de dopamina podem também alterar nossa percepção do tempo. Estimulantes como a cocaína, cafeína e nicotina podem fazer o tempo passar mais rápido, enquanto sedativos como Valium e cannabis o desaceleram.

Quando se fala em usar o poder da mente para controlar a percepção temporal, um dos fatores mais importantes é a atenção que prestamos a passagem do tempo. De acordo com Meck, embora estejamos raramente conscientes da passagem do tempo, nós mantemos uma constatação subconsciente no nosso sistema de medida de intervalos e de tempos em tempos acessamos conscientes a essas informações. Esta atenção esporádica mantém nossa percepção fluindo.

Quando o tempo voa

Se por algum motivo tiramos nossa atenção do relógio, nossa sensação de tempo pode se perder. Isso valida o conhecimento popular de que "o tempo voa quando se está se divertindo", ou mais precisamente, "o tempo voa quando se está focado em algo que não a passagem do tempo". É da mesma forma possível mover o tempo em outra direção. No último encontro anual da Sociedade de Neurociência em Washington DC, Dalai Lama falou sobre como o tempo parece ficar lento durante a meditação, conforme você se foca para longe de seu relógio interno. Já quando você se move para fora da meditação, parece ter se passado mais tempo do que de fato se passou.

No último ano, nos "experimentos Armageddon", os cientistas dividiram voluntários em dois grupos. O primeiro assitia nove minutos do filme Armageddon e o outro esperava sentado em uma sala pelo mesmo período. Como era esperado, quando se pediu que dissessem como foi a passagem do tempo, o grupo Armageddon relatou que o tempo pareceu passar mais rápido que o normal, enquanto o grupo da sala de espera disse que o tempo se arrastou. Mas quando se pediu que refletissem sobre quanto tempo realmente achavam que tinha se passado, os resultados foram o oposto. Apesar de sentir que o tempo voou, o grupo Armageddon julgou o tempo 10% maior do que o grupo da sala de espera. Surpreendentemente, ambos estimaram que tenha se passado menos do que os 9 minutos reais.

A explicação, diz Wearden, é que os indivíduos da sala de espera fizeram sua segunda estimativa baseados na informação que processaram - ou sua memória do número de eventos que ocorreram - durante o experimento. "Na sala de espera não havia nada acontecendo e o tempo passou devagar," ele diz. "Mas revendo isso, o período foi mais rápido pois não continha nenhum evento. O período Armageddon passou mais rápido quando se estava nele mas, relembrando, você revê a quantidade de coisas que se passaram e a estimativa de tempo pareceu maior. É como um paradoxo."

Nos dias atuais, poucos experimentos como este têm sido feitos, mas este tipo de estudos podem ajudar a revelar alguns dos mistérios da percepção do tempo, como o porquê de algumas pessoas mais idosas sentirem seus dias se arrastarem, mas os anos parecem voar. Pode ser que estas pessoas tenham menos a fazer e assim gastam mais tempo prestando atenção na passagem do tempo. Mas quando olham para trás, seus cérebros não processaram muitas informações, e assim eles acham que o tempo passou rapidamente.


Vivendo lentamente

Não tem nada de novo em sentir-se apressado pelo mundo moderno. As pessoas têm lutado contra isso desde a revolução industrial. Mas conforme o ritmo da vida fica cada vez mais veloz, mais e mais pessoas estão fazendo de tudo para desacelerar e voltar a ter mais controle sobre o tempo.

Grupos dedicados a viver lentamente, o "slow living", como uma Sociedade Alemã para a Desaceleração do Tempo e os movimentos italianos do Slow Food , Slow Cities, e Slow Sex Movements, nos mostram um interesse grande no tópico. O jornalista Carl Honoré, de "In Praise of Slow: How a worldwide movement is challenging the cult of speed" (Orion, 2004), diz: "Não são hippies, são pessoas nos seus 20 e poucos anos. São pessoas na linha de frente tentando entrar em contato com suas tartarugas internas, e eu acho isso muito revelador. Todos queremos a tecnologia, mas não queremos que cada momento do dia seja uma corrida contra o relógio."

Um comentário:

Douglas Lima disse...

Ótimo post, pena q só deu pra ler o primeiro parágrafo pois eu estava com pressa e não pude ler o resto =P